Exposição de arte com homem nu
A arte sempre é algo que desafia o pensamento. Não é algo matemático, como dois mais dois. Ela quer instigar o pensamento e a imaginação para percorrer caminhos que não são comuns. A arte suscita a subjetividade de cada um e a imaginação para adentrar territórios que vão além do corriqueiro. Por isso, ela tem por característica a liberdade. Não se enquadra simplesmente nos parâmetros habituais. Muitas coisas que aos olhos de alguns não dizem nada, na visão de outros é arte.
Em menos de um mês duas exposições no Brasil provocaram grande polêmica. Uma em Porto Alegre, do Queermuseu, e outra em São Paulo. As duas foram avaliadas por muitos como estimuladoras da pedofilia, além de outras coisas. A mais recente exposição, em São Paulo, apresentou um homem nu, onde as crianças podiam tocar. Isso de alguma forma já choca uma sociedade onde a cultura é de vestir-se e guardar o corpo com pudor e respeito à própria intimidade. Podemos dizer que o corpo é sagrado. Nascemos nus e a nudez é da natureza e a vestimenta é da cultura. Dá pra sobrepor uma a outra ou as duas são importantes? Temos o resguardo do corpo como um valor importante, como se guardássemos para nós mesmos o mistério que somos. Não gostamos e não nos expomos por completo às pessoas. Ninguém faz isso. A alma parece precisar dessa privacidade, naturalmente sem bloqueios e assumida serenamente. Há sempre uma parte de nós que apenas nós sabemos e, talvez, alguma outra pessoa. Por isso, como humanos, ao mesmo tempo, nos expomos e nos resguardamos em nossa interioridade misteriosa.
Diante disso, porque expor um homem nu como arte e possibilitar que seja tocado por crianças? Seria para desfazer os tabus relacionados ao corpo e a sexualidades? Será que isso vai construir uma sociedade mais aberta, adulta e respeitosa e as crianças crescerão com uma sexualidade mais integrada? Ou existe algo no ser humano que vale resguardar pois é um bem precioso, como a sacralidade do corpo? Será que está exposição suscita no pensamento o respeito ao corpo, ao outro e uma vivência sadia da sexualidade? O que querem de fato estes expositores? Talvez, estaríamos sempre mais adentrando numa sociedade sem parâmetros entre saber o que é certo ou errado?
Eu não tenho todas as respostas. Quem tem respostas para tudo, tanto aprovando como desaprovando, também me deixa com uma pulga atrás da orelha. O que me parece ser sempre um critério positivo é se o ser humano e seu bem está no centro de todas essas atividades. Só que ao dizer isso, nasce outra pergunta: o que é ser humano? Aquele que está na minha cabeça ou aquele que está na cabeça desses expositores. Como padre, creio que quando queremos de fato saber o que é ser humano, Jesus é sempre o melhor critério para a avaliação.